A decisão de Donald Trump de taxar os produtos brasileiros em 50% para encurralar as instituições brasileiras, reabilitar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e desgastar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ter sido um “tiro no pé” e já estariam favorecendo politicamente a intenção de reeleição do petista.

Interferências estrangeiras em assuntos domésticos costumam mexer com o brio dos nacionais atingidos e uni-los em torno de discursos nacionalistas.
Neste sentido a investida do norte-americano contra o Brasil, capitaneada e festejada pelo bolsonarismo já estaria unindo a população em torno do mais alto discurso de resistência ao ataque de Trump, que é justamente do presidente Lula.
Se os Bolsonaros não fossem tão reativos, convencidos de si mesmos, e tivessem observado o que aconteceu no México, Canadá e na Europa teriam sido mais cautelosos em festejar e assumir a articulação do ataque de Trump contra o Brasil, que hoje lhes rende o título até de “traidores da pátria”.
No Canadá, por exemplo, o tarifaço de Trump chegou quando o ex-primeiro-ministro Justin Trudeau havia renunciado ao cargo e estava organizando uma eleição para ser substituído devido a sua baixa popularidade, porém o enfrentamento do político contra a agressão norte-americana lhe garantiram a eleição de um aliado.
No México, a presidente considerada de esquerda, Claudia Sheinbaum, gozava de uma aprovação de cerca de 42% quando o presidente norte-americano tento agredir a soberania do seu país e o resultado final é uma popularidade histórica em território mexicano, de nada menos que 85%.
Na Europa, o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrentava dificuldades para manter a governabilidade no congresso local devido à queda na aprovação do seu governo, aí veio a taxação protecionista de Donald Trump e a popularidade do progressista francês escalou para 80%.
Apenas doze horas após o ataque norte-americano contra o Brasil, uma pesquisa da Nexus, instituto especializado em inteligência de dados, apontava que o Trending Top no país era liderado por publicações em defesa da soberania brasileira, com mais de 240 milhões de impressões. “Brasil Soberano” vinha em primeiro lugar, seguido pelo termo “Respeita o Brasil” e o “Não à Ditadura” estava em quarto.
O ato de Trump, supostamente articulado por Eduardo Bolsonaro, era para ser o presente de Natal antecipado que o ex-presidente Bolsonaro queria, mas virou um presente de grego.
O Bolsonarismo acabou armando os adversários, criando um inimigo comum, unificando grupos rivais e desgastando o clã que foi capaz de defender o agressor.