Em locais dominados pelo crime organizado é assim: bandidos fazem o que querem, as leis são eles mesmos e nada lhes acontece com a proteção, inclusive, das instituições que deveriam defender os interesses gerais, da comunidade.
E isso é o que parece estar acontecendo em Valparaíso de Goiás durante o comando do prefeito Pábio Mossoró (MDB).
A união dos vereadores aliados, denunciados por corrupção, irregularidades e ou favorecimento, Alceu Gomes (UB), Plácido Cunha (PDT), Flávio Lopes (MDB), Walison Lacerda (MDB) e Jabá do Povo (UB), para afastar desavergonhadamente o também vereador Édson Nunes (PSDB), que como corregedor da Câmara leu as denúncia de um cidadão contra eles, é uma das ilustrações desse aparente comando criminoso na cidade.
O termo “mafiocracia parlamentar” é muitas vezes atribuído a países democráticos cujas instituições políticas, sociais, jurídicas e econômicas estão sob o controle de oligarquias particulares, na maioria absoluta das vezes criminosas, justamente pelo “exercício do domínio para a manutenção do próprio”. E toda semelhança dessa situação com o “status quo” de Valparaíso não parece mera coincidência.
Edson foi afastado das suas funções por uma acusação já escrutinada pelo poder judiciário no processo que cassou outro vereador, enquanto os parlamentares algozes votaram contra e livraram a si mesmos da instauração de processos de quebra de decoro embasados em vídeos, fotos, áudios, documentos, testemunhos.
Além da Câmara, no Ministério Público acusações e investigações contra aliados do prefeito Pábio parecem nunca dar nada e alguns ganham o “sigilo de justiça”, que parece só servir para proteger suas candidaturas à reeleição contra a avaliação popular.
O vereador Jabá do Povo, por exemplo, está envolvido no mesmo caso em que o ex-vereador Paulo Brito acabou preso e cassado, mas ele, além de não ter sofrido nenhuma sanção legal no mesmo tempo, também se beneficiou da proteção desse tal “sigilo de justiça”, que determinou a deleção de matérias jornalísticas sobre o caso.
Mas sabe qual a diferença aparente entre os dois? A publicidade dada pela imprensa ao caso Paulo Brito, que faz crer que os órgãos acabaram obrigados a dar prosseguimento no caso, enquanto o desconhecimento das acusações contra Jabá pode ter dado tranquilidade para a formação de uma rede de proteção temporal ao pabista.
Na instituição local, que teoricamente é de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, há também a denúncia contra uma suplente de vereador e ex-secretária do governo Pábio, sobre um suposto desvio de cestas básicas compradas com o dinheiro público para atender pessoas carentes. Neste caso há vídeos dos kits de alimentos sendo carregados até durante a noite para e da instituição que leva o nome da política. Além do sigilo inicial do caso, que ela ganhou de presente, não há nenhuma ação legal ministerial conhecida sobre o assunto.
A poucos dias, o próprio prefeito Pábio Mossoró tomou o celular da mão de um jornalista que o questionava sobre os recursos da obra de reforma da Central de Flagrantes da Polícia Civil no Céu Azul, para supostamente apagar o vídeo do questionamento. De acordo com um flagrante registrado em vídeo e testemunhos, o gestor teria pego o aparelho particular do comunicador, entrado no CIOPS apagado o registro e no final quem foi preso foi o entrevistador, que não ofereceu nenhuma resistência ou risco a ninguém, mas mesmo assim chegou a ser trancafiado e fotografado ilegalmente numa cela.
Mais recentemente, Pábio e um empresário que tem contratos com a prefeitura saíram chutando e empurrando o filho do pré-candiato a prefeito adversário, Zé Antônio (PL). Denunciados no mesmo CIOPS, eles foram lá aparentemente a passeio e nada lhes teria acontecido, mesmo que as agressões tenham sido filmadas com clareza.
Tudo parece virar arquivo onde o áudio de um servidor público, dizendo que “não pode mais usar a repartição pública” para interesse particular do prefeito, não é considerado prova de nada, ou quando nada de anormal é detectado em uma operação de crédito de R$ 70 milhões, mais de 10% do orçamento anual da cidade, que vira um amontoado de obras mal feitas e sempre destruídas nas primeiras chuvas somado as envios bancários para a empreiteira da Bahia cujo um proprietário é contumaz alvo da justiça de outros lugares, não aqui.
O termo “está tudo dominado”, que é muito comum na comunicação de faccionados para indicar uma área completamente livre de inimigos, inclusive da ordem do estado de direito, também parece definir o Valparaíso de Pábio Mossoró e seu grupo.